quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Complexidade da Emoção Alheia


Ah! Sabe aquele dia em que você deseja não estar pra ninguém? Hoje, quero dizer, ontem foi um dia desses. Abatido, cansado, desanimado, milhões de perguntas passando na mente. É nesses momentos que a gente pensa que tem o maior problema do mundo em nossas costas, mas me propus a olhar em volta, perceber o alheio. Vivemos como ilhas isoladas, mas ao nosso derredor é uma visitação constante de pessoas. É um vai e vem frenético, parece até que a vida é uma imensa estação de embarque e desembarque.
Voando alto em meus pensamentos, me vi pensando nos problemas das outras pessoas, ou tentando capturá-los numa sintonia que é impossível de achar.
Uma vez, vindo do shopping, parei no ponto a esperar o ônibus. Estava tão pensativo e concentrado em alguns pensamentos, quando uma mulher parou na fila ao meu lado. Ela começou a puxar assunto e nós começamos a falar do trânsito – que por sinal, estava caótico naquele dia – quando ela disse que, se no dia em que a filha dela morreu, os agentes de trânsito estivessem nas ruas, o acidente não teria acontecido. Ela perdeu a filha num acidente de trânsito, mas eu estava tão concentrado que no momento pensei que o fato havia ocorrido há alguns anos atrás, mas me enganei, aquela mulher perdeu a filha havia dois meses. Ela disse que era uma menina linda, e só tinha 14 anos de idade. Ela voltava de um almoço entre familiares, quando na volta pra casa aconteceu a perda. Fiquei um tanto perplexo com essa história que vim no ônibus pensando na aflição que aquela mulher sentia. Perder uma filha, a única filha... Não é fácil segurar essa dor. Por um momento partilhei de uma dor que não era a minha.
Hoje, tento não ser tão egoísta, as coisas não dão errado só pra mim, eu não sou o único com problemas no mundo... Tenho meus problemas, e são muitos, mas eu não tenho o direito de me achar exclusivo.
Caminhando nas ruas, você vê rostos que nunca viu antes, no ônibus ou no metrô você divide espaços com pessoas que são incógnitas, mas em cada uma delas há uma complexidade de emoções que nos fazem sentir menos exclusivos, nos fazem pensar de um jeito mais humano, com um olhar mais analítico e crítico a uma riqueza surpreendente de detalhes que não são apenas meus ou seus.
Eu, você... Nós... Todos atuando direta ou indiretamente como complemento, como equilíbrio dessa caminhada denominada “vida”.