domingo, 10 de agosto de 2008

Tributo aos vilões

Aproveitando o post sobre o Frejat, a leitora Lais pergunta se eu gostava do Cazuza. Adorava, Laís! Ainda agora estava ouvindo "O tempo não pára" no rádio do meu carro, que é uma música que me emociona demais. Cazuza compunha muito bem, tinha um talento raro e muita visceralidade. Não se economizava. Em suas músicas, ele escancarava a alma e deixava o nervo exposto. Creio que ele faz muita falta, ao contrário do que pensa um outro leitor que deixou aqui um comentário que inicia com um elogio a mim (obrigada!), mas deu a entender que não apreciava o Cazuza e que já teria escrito sobre isso em seu blog, numa crônica intitulada "Tributo aos Vilões". Não li, mas, pelo título, creio que deve ser algo parecido com um texto que andou circulando pela internet anos atrás, uma acusação absurda aos pais do Cazuza, dizendo que eles haviam dado muita liberdade ao garoto e que ele era um mau-exemplo, e portanto não merecia ser exaltado como artista. Como assim? Então um artista só merece respeito se for heterossexual, se nunca tiver experimentado drogas, se nunca tiver cometido nenhum excesso? Mas quem somos nós para julgar os outros? Cazuza assumia: "Eu não faço mal nenhum, a não ser a mim mesmo". Como é que seria o mundo se todos os artistas fossem absolutamente regrados? Não existiria Janis Joplin, Eric Clapton, Pablo Picasso, Jack Kerouac, Rita Lee, Tim Maia, Cassia Eller, Oscar Wilde, Rolling Stones, Marlon Brando, Billie Holiday, Bob Marley, Ernest Hemingway, Elis Regina, Jimi Hendrix e tantos outros que beberam, fumaram, piraram, mas não fizeram mal nenhum à sociedade, ao contrário, deixaram um legado artístico de enorme valor, coisa que talvez não fizessem se fossem comportados pais de família. Claro que não é preciso ser porra-louca para ser bem-sucedido, mas se alguns artistas têm uma natureza transgressora, a troco de quê vamos boicotá-los? E chamá-los de vilões, convenhamos... Por acaso roubaram, como tantos empresários e políticos por aí? Mataram algum inocente, dando tiros pelas ruas? Desviaram dinheiro público? Nossos vilões são outros. Desses, sim, temos que manter distância. Pra encerrar, queria lembrar que cada vez que acusamos os outros, estamos com isso enaltecendo a nós mesmos. Será que estamos tão acima de qualquer suspeita? Me foge agora o autor da seguinte frase: "Se todos soubessem o que cada um faz entre quatro paredes, ninguém cumprimentaria mais ninguém". Eu, que também crio, espero que meu trabalho seja sempre reconhecido pelas emoções e reflexões que ele possa provocar, e não por meu bom mocismo. Ave, Cazuza!

Martha Medeiros

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Boa tarde, Martha... eu, até ler essa postagem, não sabia que havia existido um movimento "anti-cazuza", uma acusação a educação dada a ele por seus pais... mas confesso que tinha uma opinião formada sobre o assunto, um "pré-conceito", a favor desse movimento... após ler a sua "defesa", pude ter uma clareza melhor quanto ao tema... e chego a seguinte conclusão: as duas partes estão certas... Cazuza não é (e digo "é" no presente mesmo) exemplo pra ninguém... mas como pessoa, indivíduo... como Artista (com "A" maiúsculo) é, não só um exemplo, como uma referência! Cabe a nós separarmos tais exemplos...

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